quarta-feira, março 31, 2010

Para quem não tem facebook...

Caros colegas e visitantes deste nosso blog do 8º esquerdo venho aqui informar, quem não tem facebook ou se tem não é frequentador assíduo, que no âmbito desta greve de enfermagem muito se tem escrito sobre um artigo que um senhor chamado Henrique Raposo redigiu e foi publicado no Expresso:
A lata dos enfermeiros, segunda parte - Expresso.pt

Eu quando li senti-me realmente triste e até revoltada por verificar que existem pessoas que pensam desta forma , e senti necessidade de esclarecer o senhor, enviando-lhe o seguinte email:

"A lata do senhor que não sabe o que fala! Após ler no expresso um "artigo" (se é que assim se pode chamar) denominado " a lata dos enfermeiros, segunda parte" não podia deixar sem resposta o senhor que teve a lata de o escrever e o jornal que tem a lata de publicar artigos desta natureza, absolutamente fora da realidade. Em primeiro lugar ao senhor Henrique Raposo quero deixar claro que sim sou enfermeira, e como tal sinto-me no dever de o informar que nesta greve não está apenas implícito a luta por um ordenado a que temos direito, mas sim a valorização de uma classe, a luta por uma carreira justa. Sou enfermeira licenciada há cerca de 4 anos e recebo quase tanto como um colega que já o é há cerca de 10 anos, e daqui a 10 anos (senão lutar agora) vou estar a receber o mesmo que agora. Existem enfermeiros que se viram "obrigados" a deixar de ter tempo para a família, a disponibilizar parte do seu já pouco ordenado, para realizar um "complemento do bacharelato" e depois não advieram daí nenhum beneficio. Os enfermeiros continuam a fazer formação contínua, a fazer especializações (e qual o beneficio?), apenas pela vontade de saber mais e melhorar a qualidade dos cuidados prestados aos seus doentes. Quero também que fique esclarecido que as greves que os enfermeiros têm levado a cabo, os direitos que reivindicam, não são uma luta contra a classe médica, pois todos têm o seu papel, funções que embora se complementam são distintas, não tendo uns mais ou menos conhecimentos ou aptidões que outros. Afinal será que qualquer serviço de saúde funciona sem um enfermeiro?! Se acha que sim, como dá a entender, é porque não tem conhecimentos sobre a área e como tal não devia dar opiniões ridículas, devia simplesmente limitar-se à sua ignorância. E ao que o senhor refere como "limpar o rabo aos velhinhos" chamam-se cuidados de higiene que por vezes os enfermeiros, quando consideram adequado delegam aos assistentes operacionais (não auxiliares, mais uma demonstração de ignorância sobre o assunto), não por serem demasiado finos, mas porque têm outros cuidados a prestar que não podem ser delegados. O número de enfermeiros nos serviços está longe do ideal e como tal têm que se estabelecer prioridades, o que implica responsabilidade. Espero que a sua mente cheia de nuvens negras fique um pouco mais clara com este esclarecimento e que se um dia necessitar de um enfermeiro (mais cedo ou mais tarde todos precisamos) se lembre das palavras que um dia escreveu e se sinta realmente mal, até ao ponto de sentir nojo de si próprio. Ao responsável pelas publicações no expresso quero apenas dizer que se deviam envergonhar de permitir que alguém com tão poucos conhecimentos sobre uma matéria a comente de forma nada profissional. Com os melhores cumprimentos, Sónia Brígida P.S. Senhor Henrique não precisa agradecer os esclarecimentos, também faz parte das funções dos enfermeiros fazer educações para a saúde, considere isto um ensino para a melhoria da sua saúde mental!"


E adivinhem lá, obtive uma resposta ao email, que manteve a mesma linha de pensamento:

"Cara Sónia, obrigado pelo seu mail, e pela sua preocupação com a minha saúde mental. Mas é bom saber que tem uma consciência corporativa bem activa, e que, por isso, acha bem pedir um aumento de 200 euros nesta altura de aperto para o país. os melhores cumprimentos, Henrique Raposo"

Como não podia deixar tanta soberba sem resposta lá me vi obrigada a dizer que:

"Mais uma vez com esta resposta só demonstra a sua ignorância sobre o assunto em causa, pois estas reivindicações já se arrastam há vários anos e como ainda não se chegou a um acordo digno não podemos simplesmente baixar os braços só porque estamos em "crise" e mais uma vez deixar que os governantes deste país não reconheçam o valor da nossa classe e a respeitem condignamente. Será que é assim tão ridículo dar aos enfermeiros o que têm direito, quando se pagam milhões em prémios para os gestores públicos?! (é só um exemplo). Sei que posso estar aqui a enumerar inúmeros factos que não irá compreender, pois a sua mente está muito toldada e só vê aquilo que quer, como tal ficamos por aqui. Até já lhe dediquei demasiado do meu precioso tempo, é a minha vertente de enfermeira a vir ao de cima, sempre à procura de cuidar dos seus doentes, seja qual for a sua doença. Contudo, também é preciso respeitar quando estes não se querem curar!
Com os melhores cumprimentos,
Sónia Brígida"

E assim vai a imagem da enfermagem em Portugal. Por momentos pensei que estava a perder tempo e tamanha atrocidade nem sequer merecia resposta, mas afinal senão formos nós enfermeiros a defendermos a nossa classe mais ninguém o fará!

Sónia Brígida


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